Campeonato Brasileiro
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sexta-feira, 24 de julho de 2009

ERA DAS TREVAS!

Cuca sai do clube sem deixar saudades
Foto: Globoesporte.com


Torcedores do Mais Querido do Brasil!

Após mais um resultado negativo em casa desta vez diante do Barueri, a paciência da torcida se esgotou com o técnico Cuca. O empate suado por 1 a 1 foi suficiente para a diretoria anunciar na quinta-feira a demissão do treinador.

Apesar de que a história é um pouco diferente. A intenção de Cuca após sair do gramado do Maracanã visivelmente cabisbaixo era entregar o cargo na entrevista coletiva a imprensa, mas no vestiário, o vice-presidente de futebol, Kléber Leite teve uma conversa com o treinador tranquilizando-o e afirmando que era preciptada a atitude naquele momento.

Uma guerra nos bastidores políticos do Flamengo esquenta a cada dia. Durante a semana, o presidente em exercício Delair Dumbrosk afirmou que em caso de um resultado negativo diante da equipe paulista, este poderia ser o estopim para a queda do então técnico do clube.

Não querendo perder mais uma queda de braço entre opositores e situação, Kléber Leite, então, convocou a presença dos jornalistas assumindo a responsabilidade pela demissão de Cuca na tarde de ontem. Essa seria mais uma prova do fortalecimento da chapa da situação encabeçada por Delair que antes mesmo da chegada do ex-técnico do Botafogo ao Flamengo era contrário a sua vinda, mas Kléber apoiado por Márcio Braga conseguiu trazê-lo a Gávea.

Segundo o site Globoesporte.com, o clima de convivência entre o elenco e o ex-comandante rubro-negro não era dos melhores. Cuca era visto como um 'leva e traz' dentro da equipe. Muitas rixas e indignação por parte dos jogadores levaram a inimizade dos atletas para com o treinador (Confira abaixo a matéria na íntegra).

Depois do jogo diante do Barueri, o último sinal da crise. Willians após utilizar-se do fair play no momento mais crítico da partida nos minutos finais foi chamado de 'burro' pelo treinador. Logo após, o camisa 8 garantiu que não precisava de jogar sujo para vencer.

O vice-presidente Kléber Leite garantiu que no prazo de no máximo 48 horas irá anunciar o novo treinador. Wagner Mancini está na primeira posição da lista. Sérgio Guedes, do Santo André teve o nome relacionado novamente e até mesmo Carlos Alberto Parreira, porém a ideia é contratar um treinador jovem. Para a partida diante do Santos, domingo, na Vila Belmiro, Andrade será o treinador (interino).

Se o técnico Cuca chegou como o 'cordeirinho' saiu como a 'ovelha negra' do Flamengo.


Por: Eduardo Peixoto

Campeão infeliz: os bastidores da era Cuca no Flamengo

Pode parecer cena do jardim de infância. Mas não é, e aconteceu no auditório da Gávea, em abril. Enquanto os jogadores do Flamengo, sob a liderança do então capitão Fábio Luciano, tinham uma reunião interna, o auxiliar e irmão de Cuca, Dirceo Stival, o Cuquinha, posicionou-se na entrada e colocou o ouvido atrás da porta para saber o conteúdo do encontro. Temia que estivessem tramando contra a comissão técnica. Não estavam e muitos sequer sabem que foram espionados.

A cena fez parte da redoma de desconfiança que o treinador criou desde que chegou ao clube, em dezembro. A bola de neve cresceu e transformou-se em um emaranhado de problemas que o afastou cada vez mais do elenco e terminou com a demissão dele, na tarde de quinta-feira.

Para muitos, a saída de Cuca é a vitória do antiprofissionalismo sobre um treinador empenhado em mudar o panorama reinante na Gávea. Talvez seja. Para a maioria dos jogadores e de quem conviveu com ele no período, no entanto, a história tem um outro lado.

Ao longo dos mais de sete meses de convivência, o GLOBOESPORTE.COM coletou histórias dos bastidores que revelaram o ambiente hostil que dominou o clube mais popular do país. Os personagens só autorizaram a publicação após a saída do treinador para evitar mal-estar.

- Infelizmente, já conhecia o Cuca de 2005 e a experiência não tinha sido das melhores. Ele é difícil de lidar, alterna muito o humor. A saída demorou até demais. Não havia clima - disse uma das fontes.

O primeiro tiro pela culatra foi dado logo no primeiro mês. Sentado no hall do hotel em que a delegação estava, em Volta Redonda, ele detonou o grupo que acabara de conhecer:

- Não sei como consegui perder dois títulos estaduais com o Botafogo para esse time.

Era a forma que encontrou para se defender de um possível fracasso no Estadual. Porém, o mesmo elenco, três meses depois, garantiu a Cuca o único título expressivo de sua carreira.

Mas até o tricampeonato carioca, aquele que seria o momento mais feliz da relação, diversas minicrises foram instaladas e resolvidas. O técnico dizia para quem quisesse ouvir que os jogadores não se empenhavam nos treinamentos.

Os métodos de trabalho do preparador físico Riva Carli provocaram problemas. Na pré-temporada, havia lamentos sem pudor sobre a saída de Ronaldo Torres, profissional que trabalhava com Joel Santana. Em um dos episódios públicos, Juan ofendeu Riva diante da câmera do GLOBOESPORTE.COM reclamando do seu programa de treino.

A forma física de Obina, que posteriormente foi emprestado ao Palmeiras, sempre trouxe comentários desabonadores ao atacante. Em um deles, o comandante lamentou com Ronaldo Angelim:

- Essa barriga não é só de quem come muito. É de cachaça.

Antes de virar as costas e sair, o zagueiro afirmou:

- O Obina não bebe.

Ibson ameaçou abandonar final

Por mais que estivesse inconformado com algumas atitudes de descompromisso do grupo, o treinador escolheu uma forma perigosa de se esquivar e passou a criticar quase todos os jogadores. Por trás. Léo Moura recebeu a alcunha de lateral mais preguiçoso do Brasil. Nem mesmo o capitão Fabio Luciano escapava. Mas os dois nunca bateram de frente. O capitão, apesar de descontente com o que ouvia por terceiros, sempre tentou apaziguar o ambiente ruim. Mas os comentários não cessaram. Um dia, ao olhar Josiel em um treino, o técnico disse:

- É dose escalá-lo.

Um dos episódios de maior tensão aconteceu na final da Taça Rio contra o Botafogo. No jogo em questão, Cuca passou todo o primeiro tempo cobrando mais empenho do camisa 7, a quem chamava de "mimado", e gritando sem parar:
- Volta Ibson, marca Ibson. Se não fizer isso vou te tirar.

Na saída para o intervalo, o apoiador estava transtornado e reagiu:

- Você não pode falar assim comigo. Sou homem e te respeito.

A discussão se estendeu até o vestiário. Ibson trocou de roupa para ir embora e foi convencido por companheiros e dirigentes a rever sua posição e voltar ao campo. O título abafou a crise.

Malvisto por quase todos os atletas, Cuca encontrou nas divisões de base uma saída para seus problemas. Além de ver mais facilidade para dar ordens aos jovens, o ex-técnico queria promover uma reformulação. Ele via o grupo impregnado por "panelas" e uma superproteção a jogadores em quem não confiava, como Jônatas.

- No meio do ano a gente vai se livrar do Léo Moura, Juan, Fabio Luciano, Kleberson e Ibson, e aí nosso futuro serão os jovens. O Flamengo precisa passar por isso – dizia pelos cantos.

O amor pelos garotos durou até a primeira falha e novamente a língua o traiu. Após a atuação ruim de Welinton, contra o Cruzeiro, a metralhadora do técnico voltou a girar.

- Ele nunca vai ser bom porque é burro. Inteligência não se aprende – disse, durante um treino.

O Imperador

Por incrível que pareça, Adriano, um dos principais alvos do treinador, jamais tramou contra ele. De personalidade tranquila, o Imperador dava de ombros para as ameaças que recebeu.

- Se ele não se enquadrar, vou dentro dele. Não vai me sacanear – disse Cuca, depois de o jogador não comparecer a um treino.

Mas a relação entre os dois se complicou na véspera da partida contra o São Paulo. Ao contrário de todos os dias, quando os treinos não começam enquanto todos os jogadores não estão em campo, o técnico fez questão de iniciar logo a atividade. O Imperador viu aquilo como uma forma de expor que ele chegou atrasado. Coube a Cuquinha contemporizar a situação.

A cobrança do grupo

Aos poucos, os comentários chegaram aos ouvidos dos jogadores, que passaram a chamá-lo de traíra (na gíria boleira, o termo refere-se a uma pessoa que fala bem na frente, mas pelas costas detona). Na reunião que aconteceu em Teresópolis, em junho, o capitão Bruno abriu o jogo e externou essa situação:

- Cuca, estamos sabendo que você anda falando muitas coisas pelas costas.

Emocionado, o treinador se defendeu. Acreditou que estava tudo encerrado e os jogadores voltariam a confiar nele. Mas já era tarde.

- Posso garantir que quase ninguém gostava dele. Até o Angelim e o Juan, que não costumam reclamar de técnico algum, tinham um pé atrás com o Cuca. Ele se complicou muito – disse um jogador, que pediu para não se identificar.

No último dia, Adriano pediu a palavra na reunião para criticar as ações do treinador. Em vez de emoção e lamentos na despedida, a indiferença predominou. Os jogadores não o abraçaram. Apenas acenaram de longe e encerraram uma relação de aparências.


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