Campeonato Brasileiro
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sábado, 22 de maio de 2010

O SÁBIO DA BOLA, COM CARLOS PINHO

Foto : Arquivo da Internet


Um menino e o Bonsucesso (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Lembro-me das tardes de sábado em que, quando menino, arrastava o meu irmão para acompanhar os jogos do Bonsucesso. Vestia a camisa e, com a alegria de um céu azul , soltava do lotação em frente ao estádio Leônidas da Silva, nome de um grande ídolo do clube. De quem, por sinal, não me cansava de falar, mesmo sem ter visto um só lance que tenha feito, pois era de uma época em que nem a minha saudosa avó sonharia ter nascido.

No caminho até o estádio, as pessoas, vendo-me trajado com o manto sagrado, não acreditavam que uma criança que tinha tantas opções – impostas, por vezes, pelos pais ou pela mídia – fosse escolher torcer pelo “Leão da Leopoldina”. Meu pai, ainda hoje, me pergunta: “Como é possível”? Nem sei se a melhor palavra seria “escolher”. Não escolhemos amar alguém ou algo. Para os cientistas, seria o resultado de reações bioquímicas. Para os poetas, é uma predestinação divina.

Dentro do eterno “Caldeirão” era uma festa. Fogos, aplausos, conversas, descontração. A marcação do surdo acompanhava o canto da torcida enquanto os ídolos da minha infância se preparavam para pisar no altar da esperança. Chegávamos à arquibancada, atrás de uma das metas, onde costumavam ficar amigos que compartilhavam, de longa data, o amor e a admiração pelo Cesso, como foi carinhosamente apelidado. Algumas daquelas pessoas, acabei conhecendo por lá. Outras, reencontrei nesse inexplicável acaso que se chama vida.

Nesses dias de criança, ri e chorei, entre gritos, canções improvisadas, elogios e xingamentos. Mas os bons momentos foram muito mais intensos. E mesmo que não fossem, estaria presente. Pois torcer de fato independe da circunstância. E o sentimento inexiste para descrições ou explicações. Ele simplesmente se vive. Desfrutando ou lamentando. Jamais sofrendo.

Quando, após muita insistência, o gol era alcançado, geralmente saído dos pés de Paty, as preocupações do cotidiano davam uma folga e todos se tornavam um gigante. As barreiras, as diferenças ou a distância construída pelo tempo desmoronavam, tal qual um castelo de areia desfeito por um vendaval. Com o final decretado e a vitória celebrada, as palmas não faziam-se de rogadas. E eu voltava à minha rotina. Porém, satisfeito. Porque, durante aqueles minutos, a felicidade era rubro anil.

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